[vc_row][vc_column][vc_column_text]Desde 1980 que vários investigadores estudam o padrão de pisada do corredor, no entanto com o aumento de corredores amadores, especialmente nos últimos anos, uma das maiores questões que se tem levantado e que não reúne muito consenso entre atletas, treinadores e fisioterapeutas é em relação ao modo como o pé contacto com o solo.
Após vários estudos biomecânicos é possível identificar 3 tipos de contacto inicial ao solo, retropé (calcanhar), medio pé (apoio da planta) e antepé (ponta do pé).
Então afinal qual é a vantagem ou desvantagem de utilizar cada um deste tipo de apoio? Qual é a forma mais correta de correr? Alguma das formas é mais lesiva para o corpo durante a corrida? E qual gera mais impacto e dispêndio energético?
Quando se aborda este tema é importante ter em atenção que a questão principal não é saber o que é certo ou errado, uma vez que a variabilidade do movimento humano leva a que não exista um padrão correto que seja aplicado a todos os atletas.
A corrida por si só gera sempre impacto, no entanto, esse impacto vai sendo diferente conforme se vão modificando vários fatores, desde a velocidade de corrida, calçado e a forma como se contacto inicialmente com o solo. Todos estes fatores, segundo o que já foi possível estudar, estão fortemente correlacionados entre si, sendo desta forma interdependentes.
Mas afinal o que nos diz a evidência sobre esta temática?
Os últimos estudos que foram realizados indicam-nos uma percentagem de 75% a 95% de atletas que realizam um apoio inicial no solo com o calcanhar, inclusive atletas profissionais, sendo que apenas uma percentagem muito baixa dos atletas realiza o apoio inicial pelo antepé. Alguns autores defendem que isso ocorre especialmente devido á evolução do calçado, uma vez que este oferece um maior suporte e conforto na região do calcanhar, sendo que quando o atleta corre descalço esse apoio pelo calcanhar traria maior dor e desconforto levando este a apoiar de forma natural mais pelo meio do pé ou ponta do pé, protegendo as articulações do pico de impacto gerado pelo contacto pelo calcanhar.
Embora o apoio de calcanhar gere um maior impacto, outros estudos demonstram que as 3 formas de correr geram sobrecarga nas estruturas musculares, articulares e tendinosas, o que varia é a zona em que essa sobrecarga ocorre. Enquanto que o apoio de calcanhar coloca em maior sobrecarga a articulação do joelho e da anca, o apoio do medio pé tem maior tendência a uma sobrecarga no joelho e o apoio na ponta do pé na região do tornozelo e pé, nomeadamente do tendão de Aquiles, gastrocnémios (“gémeos”), cabeça dos metatarsos e fáscia plantar. O risco de lesão, desta forma, com a modificação do contacto inicial não desaparece, apenas a região que está mais suscetível a lesão se modifica.
Os estudos têm vindo a comprovar também que o contacto varia de acordo com a velocidade e a distância percorrida. Segundo alguns autores, em provas mais curtas e com velocidades mais elevadas observa-se uma maior predominância no apoio inicial pela ponta do pé. O que não significa obrigatoriamente que os atletas que correm mais rápido, o fazem por correr em ponta do pé, mas sim o aumento da velocidade leva a que por fatores biomecânicos utilizem mais a ponta do pé para se apoiar, uma vez que alguns destes atletas estudados, quando a velocidades mais baixas, apresentavam um contacto inicial pelo meio do pé ou calcanhar. O mesmo ocorre quando aumentamos a distância percorrida, enquanto em provas de curta distância se observa nos atletas de elite um apoio inicial predominante na ponta do pé, nas maratonas isto já não se verifica, observando-se uma maior prevalência no apoio de retropé e medio pé, uma vez que, como mencionado anteriormente, este apoio em ponta do pé apresenta uma maior sobrecarga muscular ao nível dos “gémeos”, que são músculos maioritariamente preparados na sua base histológica para uma ação de força e velocidade e não de resistência.
Relativamente á eficiência na corrida, os estudos existentes são bastante controversos uma vez que não está ainda bem comprovado que qualquer um dos apoios resulte num menor consumo de VO2 para o atleta. Neste aspeto, alguns estudos referem apenas que por 100g de incremente de calçado aumenta 1% o gasto de VO2.
Não havendo, como se verifica, certezas do que será melhor, se o calcanhar ou antepé, muitos atletas, treinadores e fisioterapeutas, defendem o apoio do meio do pé. A utilização do meio do pé favorece o contacto ao solo mais alinhado ao centro de gravidade. Esta análise do centro de gravidade surgiu de alguns estudos que defendem que o apoio seja ele de calcanhar, antepé ou medio pé quando ocorre substancialmente á frente do centro de gravidade, promove um conjunto de forças de reação que funcionam como travão do movimento e aumento da sobrecarga articular. No entanto, também neste aspeto a evidência não é concordante, uma vez que outros autores defendem que o apoio mais anterior ao centro de gravidade permite um maior efeito de alavanca que favorece a progressão na corrida.
No que diz respeito à probabilidade de lesão os estudos ainda não conseguiram comprovar também a maior incidência de lesão de uma forma de contacto em relação a outra, sabemos apenas como mencionado anteriormente quais as zonas que sofrem mais sobrecarga.
Então o que fazer? Parar de correr? Mudar a forma como corro?
O importante é conhecer o seu corpo, saber como corre, qual o seu padrão, percebendo se apresenta assimetrias chamativas, inclinações do corpo, diferenças no tamanho do passo, entre outras alterações. Esta informação quando cruzada com testes de força e resistência muscular, análise postural estática e dinâmica, amplitudes articulares, permite saber se com o padrão que apresenta de corrida existe alguma região que pode estar sujeita a uma sobrecarga excessiva, podendo resultar de lesão, ou se existe algo que deve ser treinado ou modificado de modo a otimizar esse mesmo padrão de corrida e consequentemente a sua performance.
Uma mudança brusca na forma como corre ou contacta inicialmente o solo pode ser não só não benéfica para si, como mesmo lesiva. Desta forma, importa salientar a importância do treino, não só da técnica de corrida, mas também do treino de força muscular, pois é dessa forma que o seu corpo vai estar mais bem preparado para suportar a dinâmica da corrida e menos suscetível a lesão.
Respeite sempre o seu corpo, conheça os seus limites e procure ajuda de profissionais para otimizar a sua performance. Na Osteo Performance 360º possuímos uma equipa multidisciplinar com Fisioterapeutas, Osteopatas, Podologistas e Profissionais do Exercícios, prontos para efetuar uma análise biomecânica de corrida, avaliação postural, avaliação da suas capacidades motoras e acompanhamento e prescrição de treino para auxiliar nas mudanças necessárias, sempre consciente que este deve ser um processo individualizado e progressivo.
Autores: Dr. Bruno Ferreira – Fisioterapeuta e Osteopata
Autores: Dr. Manuel Cerqueira – Podologista
Bibliografia:
Breine, B., Malcolm, P., Frederick, E. C., & Clercq, D. D. (2014). Relationship between running speed and initial foot contact patterns. Medicine and science in sports and exercise.
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Hasegawa, H., Yamauchi, T., & Kraemer, W. J. (Agosto de 2007). Foot Strike Patterns of runners at the 15-KM point during an elite level half marathon. Journal of Strength and Conditioning Research 21, pp. 888-93.
Larson, P., Erin Higgins, J. K., & Normile, A. (18 de Novembro de 2011). Foot strike patterns of recreational and sub-elite runners in a long-distance road race. Journal of Sports Sciences 29, p. 15.[/vc_column_text][vc_btn title=”Marcar consulta” size=”lg” align=”left” custom_onclick=”true” link=”url:https%3A%2F%2Fwww.osteoperformance.pt%2Fmarcarconsulta” custom_onclick_code=”window.history.back()”][/vc_column][/vc_row]