[vc_row][vc_column][vc_column_text]A arte da osteopatia pediátrica surgiu nos Estados Unidos com Viola Frymann. Apesar de ter sido a pediatra e osteopata sul africana Beryl Arbuckle, aluna de Sutherland, quem introduziu os conceitos de osteopatia no mundo da pediatria, foi Viola Frymann quem desenvolveu a osteopatia pediátrica. Viola Frymann é considerada a mãe da Osteopatia pediátrica e foi ela que escreveu o primeiro artigo em 1981, sugerindo que as crianças poderiam beneficiar de tratamentos de osteopatia. Desde então, muitos nomes têm contribuído para o desenvolvimento da osteopatia pediátrica no mundo. A osteopatia pediátrica viajou dos Estados Unidos para França, onde ainda hoje existe uma grande tradição. Recorrer a uma consulta de osteopatia pediátrica é cada vez mais comum, sendo que em 2012, a Osteopathic International Alliance revelou que um quarto das consultas de osteopatia, eram de osteopatia pediátrica.

 

Em bom rigor, os tratamentos de osteopatia para o bebé deveriam de ser considerados como tratamento para o mesmo ainda na sua vida intrauterina. As complicações durante a gravidez, como alterações de mobilidade do corpo da mãe, podem comprometer um bom desenvolvimento do feto. Numa revisão sistemática, Franke & al. sugerem que as técnicas de osteopatia produzem benefícios clinicamente relevantes para mulheres grávidas ou puérperas com lombalgia.

Presente na vida intrauterina do bebé, a consulta de osteopatia, após o nascimento do bebé, continua presente na sua vida. Após o nascimento, o bebé vai continuar a beneficiar de tratamentos de osteopatia na sua vida. O recém-nascido passa a ser acompanhado por um osteopata que modifica as suas técnicas e a sua manualidade para o ajudar a promover o seu bom desenvolvimento neuropsicomotor. O número de estudos científicos no âmbito da osteopatia pediátrica tem vindo a aumentar. Sete ensaios clínicos randomizados procuraram comprovar a aplicação de técnicas manuais de osteopatia (TMO) em pacientes pediátricos com sintomas de asma, obstrução do canal lacrimal, ganho de peso diário e tempo de internamento hospitalar, alterações miccionais, cólica do lactante, otite média e assimetrias posturais (Posadzki & al.). No entanto, são necessários mais estudos, amostras maiores e ensaios mais robustos (Bagagiolo & al.).

Os ensaios clínicos em bebés prematuros são, sem dúvida, um contributo importante para o avanço da osteopatia pediátrica como ciência. Está comprovado que, através da aplicação de TMO suaves, se melhora o sistema gastrointestinal e se consegue diminuir o tempo de internamento dos bebés prematuros, atendendo que o normal funcionamento deste sistema é essencial para o aumento de peso do bebé (Pizzolorusso & al.). Em 2019, um novo estudo surgiu em prematuros: Marinelli demonstrou que a aplicação de técnicas manuais de osteopatia melhora a oximetria, a ativação tecidular e a redistribuição hemodinâmica na ausência de qualquer padrão clínico ou laboratorial adverso. Outro estudo veio demonstrar que a aplicação de TMO em prematuros poderia melhorar a deglutição desses bebés (Vismara & al.). Seria pertinente efetuar estudos em ambiente controlado, como é o caso de uma unidade de neonatologia, onde os bebés recebem tratamentos muito similares e são monitorizados vinte e quatro horas e onde o custo de internamento é muito alto. Seria ainda produtivo encontrar ferramentas de avaliação e tratamento que ajudem esses bebés e que melhorem as respostas do serviço. Um grupo de osteopatas italianos desenvolveu o NE-O model, um modelo que define as etapas principais para uma abordagem osteopática rigorosa e eficaz em ambiente de cuidados intensivos de neonatologia (Cerritelli & al.). Este modelo poderá estar na base de novas investigações.

O sistema sensorial do bebé desenvolve-se por volta da oitava semana de gestação, promovendo a maturação do sistema nervoso central. Dentro da barriga da mãe, o bebé move-se, é pressionado, é movido não só pelos movimentos feitos de forma voluntária pela mãe como também pelos movimentos viscerais da mesma. Tal como Manzott demonstrou, uma estimulação intermitente através do toque suave em bebés prematuros entre as 28-37 semanas diminuía a frequência cardíaca e melhorava a saturação de oxigénio comparativamente à   mesma duração de um toque estático. Estes resultados sugerem que os bebés prematuros podem beneficiar da aplicação de TMO. Fora da barriga da mãe, o bebé continua a sua maturação e o seu crescimento. Se, no caso de seres frágeis como os prematuros, as TMO estão indicadas, nos bebés de termo essas técnicas certamente continuarão a trazer benefícios. Mais estudos devem ser realizados de modo a permitir que sustentem o crescimento da osteopatia pediátrica e permitir que esses tratamentos cheguem a um número cada vez maior de bebés e crianças.

Encontrar a saúde e deixar de tratar os sintomas é o grande desafio para a medicina de hoje. Tomar um paracetamol porque se tem dor não nos trata o problema, trata-nos o sintoma, como tal, o problema irá persistir. Procurar a disfunção primária e tratá-la é permitir que o corpo consiga auto curar-se. Este é o grande propósito da Osteopatia. Tratar o que precisa ser tratado e deixar que o organismo se auto cure. Na clínica de escoliose de Edimburgo, constatou-se que, de 97 crianças avaliadas com escoliose, todas apresentavam um aplanamento cranial a nível do occipital (plagiocefalia). Uma escoliose vertebral pode estar na origem de uma escoliose cranial? Porque não tratar diretamente o problema principal a nível cranial? Um estudo de caso demonstrou que uma criança que não respondia aos tratamentos ortopédicos convencionais para escoliose passou a apresentar melhorias significativas após TMO (Feely & Kapraun). A auto cura só acontece quando a disfunção primária, o verdadeiro problema, é tratado. Não vale a pena, “deixar a criança crescer para se ver o acontece”, não vale a pena “esperar” porque os milagres são muito raros.

A história da osteopatia conta-nos que foi através de uma pediatra que a osteopatia pediátrica deu os primeiros passos. Nos dias de hoje, é essencial voltar às origens e procurar realizar um verdadeiro trabalho multidisciplinar nesta área. Procurar o melhor para os mais pequenos é uma responsabilidade não só dos pais, mas também de todos os profissionais de saúde.  Todos os profissionais de saúde que trabalham com pediatria devem procurar integrar nas suas equipas um osteopata com formação específica em osteopatia pediátrica. Em Portugal, os primeiros passos já estão a ser dados nesse sentido, e acredito que o futuro da saúde dos mais pequenos encontrará uma ótima resposta nesse caminho.

 

Autor:

Dr.ª Patrícia Rocha – Fisioterapeuta e Osteopata CO

 

Referências Bibliográficas:

  • Bagagiolo D, Didio A, Sbarbaro M, Priolo CG, Borro T, Farina D. Osteopathic Manipulative Treatment in Pediatric and Neonatal Patients and Disorders: Clinical Considerations and Updated Review of the Existing Literature. Am J Perinatol. 2016;33(11):1050-1054. doi:10.1055/s-0036-1586113
  • Cerritelli F, Martelli M, Renzetti C, Pizzolorusso G, Cozzolino V, Barlafante G. Introducing an osteopathic approach into neonatology ward: the NE-O model. Chiropr Man Therap. 2014;22:18. Published 2014 May 9. doi:10.1186/2045-709X-22-18
  • Feely RA, Kapraun HE. Progressive Infantile Scoliosis Managed With Osteopathic Manipulative Treatment. J Am Osteopath Assoc. 2017;117(9):595-599. doi:10.7556/jaoa.2017.114
  • Filisetti M, Cattarelli D, Bonomi S. Positional plagiocephaly from structure to function: Clinical experience of the service of pediatric osteopathy in Italy. Early Hum Dev. 2020;146:105028. doi:10.1016/j.earlhumdev.2020.105028
  • Franke H, Franke JD, Belz S, Fryer G. Osteopathic manipulative treatment for low back and pelvic girdle pain during and after pregnancy: A systematic review and meta-analysis. J Bodyw Mov Ther. 2017;21(4):752-762. doi:10.1016/j.jbmt.2017.05.014
  • Lanaro D, Ruffini N, Manzotti A, Lista G. Osteopathic manipulative treatment showed reduction of length of stay and costs in preterm infants: A systematic review and meta-analysis. Medicine (Baltimore). 2017;96(12):e6408. doi:10.1097/MD.0000000000006408
  • Manzott & al. (2019). Dynamic touch reduces physiological arousal in preterm infants: A role for c-tactile afferents? Science direct, 39: 28-35.
  • Marinelli B, Pluchinotta F, Cozzolino V, et al. Osteopathic Manipulation Treatment Improves Cerebro-splanchnic Oximetry in Late Preterm Infants. Molecules. 2019;24(18):3221. Published 2019 Sep 4. doi:10.3390/molecules24183221
  • Pizzolorusso, G. & al. (2011). Effect of osteopathic manipulative treatment on gastrointestinal function and length of stay of preterm infants: an exploratory study. Chiropractic & Manual therapies, 19: 15.
  • Posadzki P, Lee MS, Ernst E. Osteopathic manipulative treatment for pediatric conditions: a systematic review. Pediatrics. 2013;132(1):140-152. doi:10.1542/peds.2012-3959
  • Ricard & Martinez (2014). Osteopatia y pediatria. 2ª edição.
  • Vismara L, Manzotti A, Tarantino AG, et al. Timing of oral feeding changes in premature infants who underwent osteopathic manipulative treatment. Complement Ther Med. 2019;43:49-52. doi:10.1016/j.ctim.2019.01.003

 

 

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