[vc_row][vc_column][vc_column_text]Contrariando significativamente os “relatos” sociais de experiências magnânimas e “sem falhas”, nas quais o sentimento arrebatador da maternidade é “condição obrigatória” no estado emocional de uma recém mamã, de acordo com a Organização Mundial de Saúde 1 em 4 mães experiencia depressão peri e/ou pós-parto.
Partos imaculados, “by de book”, com analgesia “natural”, sem recorrência a instrumentalização ou alterações do plano delineado no pré-parto são uma realidade pouco frequente e que “escapa” ao controlo da parturiente. O parto é uma experiência nova (cada parto é singular e único), desafiante/esgotante, carregada de dúvidas, incertezas, desconfortos e dor. Sim, há dor!
Da mesma forma que os dias, semanas e meses seguintes, são tempos de constante:
- adaptação (conhecer o bebé, estabelecer rotinas,…) e readaptação (pois o que hoje parece funcionar na perfeição com o bebé amanhã já não resulta);
- descoberta (enquanto mãe e responsável por este ser tão delicado e especial) e redescoberta (qual o espaço que a “Joana (p.e)”, ocupará nesta vida de Joana mãe? E a Joana esposa?); e,
- confronto com conselhos/opiniões, não solicitados, de “mães de outros filhos” que insistentemente garantem que serão a melhor opção para os filhos dos outros.
Não bastante a todas estes desafios e superações, a recém mamã adquire, por inerência ao nascimento do seu filho, o “compromisso eterno e infalível” de ser Mãe.
“Não consigo tomar conta do meu bebé?!”; “Não sei se estou a ser uma boa mãe?!”; “Como é que eu não consigo perceber porque é que o meu bebé não dorme/come?”; “Estou a sentir-me exausta, mas não o posso dizer porque estarei a ser uma má mãe.”; “Não estou a gostar da maternidade…será por ser uma má mãe?!”; “Amamentar não é maravilhoso…mas para as outras mãe é?!”;
São algumas das questões (na maioria das vezes) não verbalizadas pelas recéns mamãs por receio da crítica social e juízo de valor por parte de familiares, amigos ou de outras mães. Se culturalmente estas mulheres foram educadas na perspetiva rígida de que o parto e a maternidade são fenómenos biológicos aos quais o género feminino está predisposto e preparado, socialmente é amplamente vendido o “parto versão 2.0 (irreal)”, carregado de glamour e felicidade instantânea, com direito a “maquiagem” e alta produção fotográfica.
Relatos de experiências reais e sem edições (nas quais se omitem as dores, os desafios, o cansaço, as noites mal dormidas, as refeições perdidas, e a perda do norte…), nos quais se falam abertamente das dúvidas e desconfortos sentidos e na procura ativa de ajuda psicológica/emocional, são essenciais para uma preparação adequada para uma maternidade positiva! Uma mãe forte é uma mãe que se permite pedir ajuda!
Á luz da Neurociência…
Uma recém mamã depara-se constantemente com uma série de situações novas sem poder fazer uso de aprendizagens adquiridas por memória de episódios anteriores semelhantes. Não tendo respostas automáticas, o sistema nervoso (nomeadamente sistema septo-hipocampal e amígdala) vai aumentar o nível de vigilância e atenção a possíveis fontes de stress e perigo- “será que estou a ouvir o meu bebé a chorar?”, “ele estará a respirar bem?”, “será que está a chorar porque está doente?”. Este estado de vigilância constante implica um dispêndio exacerbado de energia física, mental e emocional, com libertação de cortisol (hormona associada ao stress). O excesso de cortisol explica em larga medida as dificuldades de regulação emocional, as dificuldades de concentração e memória, a perda de rapidez e flexibilidade de pensamento experimentadas nas primeira e segunda etapas da maternidade.
As alterações neuropsicológicas associadas ao pós-parto são reais e estão cientificamente comprovadas.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]